terça-feira, 3 de agosto de 2010

O fio negro

Corria  o longínquo ano de 1970, mais lua menos lua e a cantina da Universidade de Luanda, com entrada pela Rua Direita, mesmo ao lado da bela igreja da Nazaré, servia um petisco bem arrepimpado e muito publicitado pela voz de falsete do coordenador Joel, de Electrotécnica -  "uma béééé´la de uma açorda de marisco"!!
Nunca vi tanta gente à mesa naquele almoço. Pratos cheios. Permissão para repetir. O que fiz de bom grado também.
Pela tarde começaram os apelos ao gregório, o jogar das mãos à atafona, as visitas assíduas às casas de banho, a corrida às águas com gás, quiçá algumas idas ao Maria Pia, para a lavagem e repouso da ordem.
No diz que disse, palavra passa palavra, chegou-se à conclusão que havia intoxicação alimentar. A lagosta, a tão desejada e aclamada lagosta, estava estragada.
No dia seguinte, para se quantificarem os resultados  desta incúria, no placard à entrada da porta colocou-se uma folha A4 com o título  "Lista de pessoas a quem a lagosta fez mal", para a devida recolha de assinaturas. Ele era folha A4 a seguir a folha A4, nomes completos, númeors do BI. Só faltava a foto tipo passe com a cara de enjoado, que a situação propíciou.
Depois alguém colocou uma folha A4 com o título "Lista de pessoas a quem a lagosta fez bem" e ... só um nome apareceu: - Jorge Manuel Ferrão Grave !!!!

...   é que eu tirei primeiro o fio negro do dorso da lagosta!!!!


Jorge, "o Grave"

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